O estudo das plantas medicinais tem ganhado destaque nos últimos anos, e no Brasil, com sua vasta biodiversidade, há um enorme potencial para desenvolver novos tratamentos e produtos de saúde a partir dos recursos naturais.
Pesquisas lideradas por especialistas como Elita Scio, professora e pesquisadora do Departamento de Bioquímica da UFJF, estão ajudando a transformar o conhecimento popular sobre o uso de plantas em medicamentos fitoterápicos, cosméticos e suplementos alimentares. Com mais de 47 mil espécies nativas, o Brasil tem o privilégio de abrigar uma grande variedade de plantas com potenciais medicinais ainda inexplorados.
A prática de usar plantas para tratar doenças remonta a milhares de anos. Civilizações antigas, como as da China, já utilizavam ervas para tratar de questões de saúde, alimentação e estética. O que antes era uma tradição cultural agora está sendo revisto com o rigor científico, buscando comprovar a eficácia dessas plantas. Entre as mais conhecidas no Brasil estão o alecrim, a camomila e o boldo, amplamente utilizados pela população para aliviar sintomas como resfriados, cólicas e problemas digestivos. A ciência, no entanto, busca identificar quais princípios ativos estão por trás desses benefícios, abrindo caminho para um uso mais eficaz e seguro dessas plantas.
O trabalho de Elita Scio no Laboratório de Produtos Naturais Bioativos da UFJF se concentra justamente em analisar as propriedades químicas dos extratos vegetais. Seu objetivo é explorar o potencial de diversas plantas para o desenvolvimento de medicamentos e cosméticos, especialmente no tratamento de doenças de pele e inflamações. A utilização de extratos vegetais tem crescido muito na indústria cosmética, principalmente por conta da busca por soluções mais naturais e sustentáveis. Segundo Scio, muitas dessas plantas também podem ser aplicadas em suplementos alimentares, o que amplia ainda mais seu uso.
O Brasil é uma potência em termos de biodiversidade, e essa riqueza oferece um campo vasto para a descoberta de novos princípios ativos. A floresta amazônica, por exemplo, é uma das maiores fontes de plantas medicinais do mundo, e estudos recentes mostram que há muitas espécies que ainda não foram totalmente investigadas. O uso desses recursos de maneira sustentável pode ter um impacto positivo, tanto para o meio ambiente quanto para a economia. A pesquisa sobre plantas medicinais não só auxilia no desenvolvimento de novos produtos, mas também pode contribuir para a conservação dos ecossistemas e o reflorestamento, preservando espécies que estão sob risco de extinção.
Além disso, o interesse por produtos naturais tem crescido exponencialmente em todo o mundo. Em 2021, o mercado global de fitoterápicos movimentou mais de US$ 138 bilhões, e as previsões indicam que esse número continuará crescendo nos próximos anos. Esse aumento de demanda reflete uma mudança no comportamento dos consumidores, que estão cada vez mais preocupados com a saúde e o bem-estar. A pandemia também acelerou essa busca por alternativas naturais, com muitas pessoas preferindo tratamentos à base de plantas devido à menor percepção de efeitos colaterais em comparação com medicamentos sintéticos.
No entanto, como alerta a pesquisadora Elita Scio, é importante ressaltar que nem todos os produtos naturais são necessariamente mais seguros. Assim como os medicamentos sintéticos, os fitoterápicos também precisam passar por testes rigorosos para garantir sua segurança e eficácia. Acreditar que “natural” significa “seguro” é um erro comum, e por isso o papel da pesquisa científica é tão importante para orientar o uso correto dessas substâncias. O Brasil tem investido em políticas públicas, como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que busca integrar essas soluções ao Sistema Único de Saúde (SUS), oferecendo mais opções de tratamento para a população.
No laboratório de Elita, algumas plantas têm se destacado por seu potencial medicinal. Um exemplo é a Ora-pro-nobis, uma planta alimentícia não convencional (PANC) que possui alto teor de proteínas e tem mostrado grande potencial anti-inflamatório. Estudos revelaram que ela pode ser eficaz no tratamento de doenças de pele, como dermatites. Outra planta estudada é a Embaúba, conhecida por suas propriedades regeneradoras, que pode ser utilizada na produção de cosméticos com efeitos antioxidantes e anti-idade. A Quaresmeira, uma planta ornamental muito comum no Brasil, também tem demonstrado propriedades antioxidantes e está sendo explorada por seu potencial cosmético.
Essas descobertas ressaltam o compromisso dos pesquisadores em transformar a ciência em soluções práticas para o dia a dia. O estudo das propriedades medicinais das plantas oferece oportunidades não só no campo da saúde, mas também no desenvolvimento de produtos estéticos e nutricionais. Além disso, essas pesquisas podem contribuir para a sustentabilidade, incentivando o uso consciente dos recursos naturais e promovendo o desenvolvimento econômico das comunidades que vivem próximas a essas áreas ricas em biodiversidade.
É importante destacar que a utilização de plantas medicinais deve sempre ser orientada por profissionais da área da saúde, garantindo que o tratamento seja seguro e eficaz. O Brasil tem um potencial único nesse campo, e com o avanço das pesquisas, o uso de plantas nativas pode se tornar cada vez mais comum nos tratamentos de saúde e bem-estar. O futuro do cuidado com a saúde pode estar, literalmente, nas plantas ao nosso redor, e o trabalho de pesquisadores como Elita Scio ajuda a pavimentar esse caminho.